A Volkswagen é uma das montadoras mais tradicionais do país, responsável por clássicos como Fusca, Gol e Kombi. Porém, suas decisões recentes no mercado brasileiro têm elevado custos, limitado acesso a modelos globais e afastado consumidores que antes enxergavam a marca como referência em acessibilidade.

A seguir, quatro movimentos estratégicos que explicam o crescente descontentamento do público.

1. O “carro de entrada” que virou artigo de luxo

A Volkswagen manteve o Polo Track como sucessor espiritual do Gol e sua porta de entrada no mercado nacional. Só que o modelo básico deixou há tempos de ser realmente básico.

Com preço já próximo dos R$ 90 mil — podendo ultrapassar os R$ 94.990 em algumas configurações — o Polo Track entrega acabamento simples, painel analógico e multimídia muitas vezes vendida como opcional caro. Num cenário em que compactos ainda dominam as vendas, a marca empurra seus hatches para patamares próximos aos R$ 100 mil, tornando cada vez mais difícil para o consumidor de menor poder aquisitivo migrar para um carro zero quilômetro.

2. Modelos globais ficam lá fora

Apesar de operar globalmente, o catálogo da Volkswagen no Brasil está longe da diversidade oferecida na Europa, China e até nos Estados Unidos. Enquanto outros mercados recebem SUVs robustos, elétricos populares e versões diferenciadas, o Brasil segue sem previsão para diversos modelos estratégicos.

Entre os veículos ausentes estão:
T-Roc Cabriolet, o conversível derivado do SUV europeu;
SUVs de grande porte vendidos na China (Tavendor, Talagon) ou nos EUA (Atlas), que preencheriam lacunas no segmento local;
Elétricos mais acessíveis, como o futuro ID.2, prometido por menos de 25 mil euros na Europa, mas ainda sem sinal verde para o Brasil.

Com isso, a eletrificação nacional segue restrita a modelos caros da linha ID., como ID.4 e ID. Buzz, limitando a adoção de tecnologias que já se popularizam em outros mercados.

3. Ícones desejados que ficam cada vez mais caros

Se os carros de entrada subiram de preço, os modelos mais aclamados pelos entusiastas seguem a mesma tendência. O caso mais recente é o do Jetta GLI, que chega à linha 2025 custando R$ 269.990 — um aumento de R$ 19 mil em relação ao ano anterior.

Trata-se de um sedã esportivo de alta performance, amado pelo público fiel da marca. Ainda assim, o reajuste agressivo coloca o modelo em uma faixa que o torna inacessível até mesmo para muitos admiradores tradicionais, reforçando a percepção de que os veículos mais desejados da Volkswagen estão cada vez mais fora do alcance.

4. Eletrificação lenta, limitada e cara

A Volkswagen possui um dos planos mais ambiciosos de eletrificação no mundo, mas o ritmo brasileiro é tímido. Apesar de continuar investindo na produção local de motores a combustão, SUVs compactos e hatches, a montadora ainda não democratiza sua linha elétrica no país.

 

Os modelos 100% elétricos chegam em volumes reduzidos, importados e com preços acima do que o mercado brasileiro consegue absorver. A consequência é um portfólio com poucas alternativas de mobilidade sustentável e uma estratégia que prioriza veículos tradicionais enquanto empurra a eletrificação para “quando der”.